sábado, 17 de janeiro de 2009.

  • A verdade que a gente quer acreditar.

Juro que as pessoas que convivem comigo deveriam todas irem para o céu, e que entrem sem ao menos serem questionadas por nada. Porque só o fato de conseguirem conviver comigo é um ato muito muito santo. E eu to falando sério.
Se um dia eu achava e as outras pessoas com certeza concordavam que eu era louca, hoje estou pior. Está sendo bastante complicado e doloroso para mim, essa tal "transição" adolescente-mulher. Eu acho que essa mudança começou aos meus 17 anos, quando eu resolvi que era hora de dar tchau para as comidinhas de mamãe e para a pequena cidade que tinha uma grande capacidade de fazer com que eu me sentisse pequena.
Fui embora. Não para tão longe, mas fui. Hoje, depois de 5 "lares" diferentes, 5 empregos diferentes, 5 anos depois, alguns efeitos da gravidade em meu corpo e alguns efeitos do ser humano em meu coração, eis me aqui, sentindo um gosto tão amargo na boca por ter notado que quase nada mudou.
Eu que tinha tanta ideias, eu que tinha tantos planos.
Sonhos? Não sei se um dia eu tive. Vontades talvez.
Eu que tudo acreditava, com olhinhos de ingenuidade, sem maldades.

Hoje vejo que não é bem pelo lado do "você não pode mudar o passado, mas pode recomeçar para ter um novo fim" ou algo assim, estou muito seca para lembrar ao certo, mas não é muito por esse lado ai. Porque sempre vai existir algumas coisas do passado que vão te perturbar, por mais que você faça terapia, por mais que você beba para esquecer. Por mais que você durma horas, quando acordar, bem ali no seu criado mudo estarão lembranças que não vão embora.

Se eu pudesse escolher, eu mudaria tudo.
Lembro de quando era criança, eu vinha para Brasília com minha mãe visitar uma amiga, eu ficava tão deslumbrada com estilo de vida deles, eu queria tanto aquilo para mim. Queria que meus pais estivessem junto e fossem morar em Brasília e que eu fosse junto. Eu achava o máximo o fato de ter que pegar o carro para ir em todos os lugares. Sei que é idiota isso, mas eu gostava, eu queria. Delirava com aquela ventania gostosa no final de tarde. Parece até que era diferente o som das coisas, as vozes das pessoas.
Outras tantas vezes eu voltei a cidade, já adolescente. Fiquei na casa da prima de uma amiga, e quando cheguei ela estava saindo para ir ao Parque da Cidade com o namorado, andar de patins. Não me lembro de ter tido tanta vontade de que acontecesse o mesmo comigo. Não queria estar no lugar dela, com o namorado dela, eu queria que aquelas coisas acontecessem comigo, com minha família. Eu queria que todos vivessem aquilo.
Acho que de fato, nunca aceitei bem minha vida, minha família. E isso me dói tanto. Me sinto tão mesquinha e pequena, igualzinho como eu me sentia lá na pequena cidade.
E hoje, eu vivo tudo isso que eu queria viver quando era menina. Porém vivo sozinha. Não tem minha mãe para dirigir o carro para ir ao shopping, ou ir visitar amigos e parentes. Não tem o meu pai para assistir TV comigo no domingo à tarde. Hoje, mesmo tento o Parque da Cidade ali, eu não vou com o namorado. Sim, eu pego carro ou metrô para ir aos lugares, e me delicio de verdade com isso, nunca vou conseguir explicar o porquê. E acho que certos sentimentos não precisam mesmo de explicação, pois é algo tão meu.

Talvez eu esteja conseguindo descobrir muitos motivos para ser como sou. Gostaria de ser mais simples, gostar de coisas mais simples, talvez posso chamar isso de querer ser "normal". Mas o fato de nunca ter tido nada convencional em minha vida faz com que eu queira para sempre viver assim, diferente de todos.
Vocês realmente não devem estar entendendo nada. Mas explico.
Vamos começar por uma família normal. Sabe aquela família? Pais casadinhos com 3 filhos. Eles vão crescendo, as meninas ganham festinha de 15 anos, o rapaz por ser o mais velho leva a namorada em casa para conhecer os sogros. Depois aos 18 anos todos vão entrando na faculdade, vão se formando e então depois de tudo isso saem de casa. Os filhos se casam, depois vem os netos e a vida vai acontecendo.
Sabem? Pois é. Nada disso aconteceu comigo, e sei que não acontece com N pessoas, mas não aprendi até hoje a aceitar. E então por tudo ter sido sempre assim, vou continuar seguindo o roteiro da minha vida.
Ela vai ser diferente. Mas diferente até mesmo da minha família. Mais uma vez eu me sinto pequena, mas não posso nem usar o argumento da cidadezinha de interior. Porque me encontro no coração do Brasil, grande, linda, mesmo com esse clima de deserto. Me sinto pequena porque as coisas não são como eu gostariam de fossem, e elas não serão, não porque não queira. Mas como disse ali em cima, não posso mudar todas as coisas para ter um final diferente. E humildemente aceitei esse sentimento.
E vou sentí-lo, dia após dia. Só que longe, muito longe daqui.