segunda-feira, 8 de março de 2010.

  • Sanidade.

Comprei a melhor garrafa de vinho, e escolhi com cuidado o queijo certo para acompanhar. Eu ainda nem havia retirado a maquiagem, e as lentes começavam a incomodar.
Cheguei em casa e tomei um banho demorado, sentindo o cheiro do sabonete e cada traço do meu corpo. Sequei o cabelo e deixei os pés molhados. Vesti minha melhor camisola e espalhei hidratante na pele. Lentamente. Abri o vinho, fatiei o queijo. Me sentei na sala para esperar. Esperei por talvez umas 3 horas, e nada. Talvez em uma hora, pensei. Mas sei que vai dar certo. Mais alguns minutos. Quem sabe segundos?! Talvez eu deveria passar um batom, e quem sabe colocar um brinco?
Com 3 goles terminei a taça de vinho e senti as pernas moles. E o coração disparado. Se eu não soubesse o que era, talvez pensaria que fosse paixão. Que idiotice.
Mais algumas horas e tudo do mesmo jeito. Talvez fosse melhor dormir, eu, a camisola de renda e a leve embriagues. Porque ela não viria mais. Já era tarde da noite e eu ainda estava esperando no sofá. O queijo intocável e a garrafa de vinho vazia. Olhos fixados na parede branca, pensamento longe. Ela não virá. Ela não virá. Ela nunca vem. Talvez esteja no apartamento ao lado, ou do outro lado da rua. Mas aqui ela não vem..
Quem sabe na próxima segunda, ou até mesmo pela madrugada.
E como sempre só ficou a loucura.




Por Loira ainda em Fuga | 15:16 | Comente! (0)








sexta-feira, 5 de março de 2010.

  • Estúpida fidelidade.

(...)
"É mais fácil viver longe de você. É mais fácil acordar feia e isso ser só mais uma visão da vida. É mais fácil dormir sem querer alcançar a vida ao lado, porque é preciso morrer um pouco para dormir e eu odeio essa sensação de intensidade absurdamente viva que eu sinto cada vez que miro um pedaço seu, espalhado no seu mundo entreaberto.
Nenhum pensamento meu tem o poder de te machucar, nenhum mundo para onde eu vá tem o poder de te causar desespero. E eu preciso te sentir na minha ratoeira, eu preciso atirar nas suas asas que sobrevoam meu sossego. Você sempre me deixa, mesmo ficando colado comigo.
Eu preciso sentir tormento alheio para desocupar o lugar da atormentada. Eu preciso ter a certeza que no seu ponto perdido no espaço ainda não mora outro rosto.
O amor tem uma cara feia pra mim, de tormenta, de escuridão, de labirinto. E eu não consigo acreditar no seu jeito feliz de me amar.(...) Quando a gente ama, a gente entrega a alma para alguém que não sabe direito nem o que fazer com a própria.
Por isso eu agora estava ali, coberta do cheiro alheio, para ver se eu me defumava de outras intenções, o suficiente para fechar os poros das nossas portas.
Eu queria morrer ali, ao lado do outro homem. Ainda que nenhuma célula do meu corpo permitisse a proximidade de outro batimento cardíaco, outro bafo e outro estalar de dedos do pé.
Eu queria congelar aquele momento sem luz, aquele momento em que, aos poucos, eu sentia meu corpo e todo o resto feito de espírito voltar ao meu centro. A nossa morte que me retornava à minha vida.
Eu queria que a manhã chegasse aos poucos, matando você sem que eu acordasse e, finalmente, no café da manhã, eu tomaria um suco de laranjas com a minha existência livre da sua.
Eu queria não acordar e lembrar que ainda preciso conquistar você, porque você brinca de ser meu, mas mora do outro lado mundo.
E eu não sou atleta e nem forte para correr tanto e tão longe, por isso gostaria de destruir tudo o que é seu do meu mapa. Eu tenho muita preguiça do seu olhar de "já sei o que é sofrer, agora posso viver sem medo porque descobri que eu não morro".
Eu já sofri por aí, mas ainda morro muito, todo dia eu velo meus restos e conto uma piada para ninguém perceber. E eu queria relaxar da terra em cima da minha cabeça só para variar um pouco.
Eu estava deitada numa cama imensa que poderia ser minha, e o outro dizia "tudo aqui pode ser só seu e pra sempre". Aos poucos fui lavando meu cérebro de você, e torcendo para os restos da limpeza caírem no meu coração, acabando de vez com o serviço.
Fui trabalhando meu corpo para esvaziar todas as suas pistas da minha história.
A maior felicidade para mim é sentir uma coceguinha de proteção no centro do meu estômago, uma borboletinha da alegria, uma paz imensa que emana do meu centro esquentando até os dedos do pé e os fios de cabelo.
(...)
A escuridão foi me invadindo e calando neurônio por neurônio, grito por grito da minha angústia.
Eu já estava me acostumando com a vida assim, a vida quente e confortável do chão firme e certo. O quente do amor conquistado e sólido e não da paixão quebrada em milhões de pedaços indecifráveis que eram jogados por um desconhecido, como num jogo de dardos, no meu coração estampado numa parede descascada.
Mas eu sonhei que você me descobria, me via deitada ali com a pele tão arrepiada que parecia uma galinha depenada, e eu te dizia: eu não deixei ele encostar em mim, eu sou tão sua, que merda, eu sou tão sua.
E você, sem alterar a expressão eterna do seu orgulho inabalável, apenas me olhava com pena e me dizia que tudo bem.
Mas não está tudo bem, sabe? Eu preciso ver sofrimento no meu líder para saber que sigo um apelo humano. Eu cansei de alisar sua escultura de pedra.
Eu cansei de ser perdoada, compreendida e aceita. Eu cansei do mundo evoluído, porque eu sou bicho e esse mundo evoluído me humilha demais.
Alguém aí pode admitir que essa merda de vida dá um medo filho da puta, e que ficar longe de tudo dói, e que ficar dentro de tudo dói, e que estar aqui, agora, dói pra cacete?
Alguém aí pode admitir por um segundo a inveja, o cansaço, o ciúme, a dor, a porra toda que essa química causa no nosso cérebro quando se espalha sem pedir permissão e joga essa doença toda pra cima da gente, a gente que estava calmamente vivendo nossa vidinha idiota?
Alguém aí pode deixar de segurar na muleta social do divertimento, jogar copos longe, cigarros longe, bocas alheias, fugazes e desconhecidas longe, roupas longe, colares e pulseiras longe, poses e armações de sutiãs longe,…?

Alguém pode me dar um murro na boca e me prender ao pé da cama, por favor?"

By Stra Bernardi



Por Loira ainda em Fuga | 15:08 | Comente! (0)